CASTRO ALVES - Luz e treva


LUZ E TREVA

I
Foi Jesus Cristo quem disse
Sob a inspiração de Deus:
“Vai, Allan Kardec, à Terra
E fala aos rebanhos meus.

Tira o povo da heresia!
A minha Doutrina amplia!
Cumpre a antiga profecia
Que fiz perante aos judeus!

Como na dura Judéia
Não temas tua missão:
O Espírito Verdade,
-Eis teu Anjo Guardião!

Aumenta as glórias no Céu!
Conquista mais um troféu!
Destrói na Terra esse véu,
Que esconde o Sol da Razão!

E o Apóstolo dileto
Despediu-se de Jesus,
E como um condor fantástico
-Mais veloz que a própria luz-

Ao lado de outros heróis,
Como ele mesmo – faróis!
Passou por milhões de sóis,
- E em Lyon viu sua cruz!

Encarcerando na carne,
-Gigante dentro de um ovo!
Ei-lo que vai ressurgir
Na bela Gália de novo!

E mais tarde, com cautela,
O Além pesquisa, interpela,
E finalmente revela
A Doutrina para o povo!

É epopéico seu trabalho
Com o Espírito da Verdade;
Galileu desvendou mundos,
Mas Kardec – a Eternidade!...

Com a chave da Ciência
Provou a Sobrevivência!
Descobriu a existência
De outras Leis da Divindade!

E o sábio deixa este globo
E volve saudoso à Luz!
Depois dos Grandes Mentores
Quem vem saudá-lo? – Jesus!...

E viram todos então,
Na Terra o imenso clarão:
-Era a Codificação
Que a Deus o Homem conduz!
II
Mas a Treva, furiosa,
Disse consigo em surdina:
“Apaguemos essa luz,
Que há de ser nossa ruína!

Infiltremos o anarquismo
Nas obras do Espiritismo,
E há de rolar pelo abismo
Quem pratica essa Doutrina!

Fizemos do Cristianismo
Uma crendice que aterra!
Que resta de Jesus Cristo
Na Itália, França, Inglaterra?

Chega ao mundo nova aurora?
O Alto nos mete a espora?
Marchemos! Chegou a hora!
Estamos de novo em guerra!

E a Treva ataca na França...
Brada um líder fariseu:
“Roustaing! Arrasa Kardec
Com as bombas que o Umbral vos deu!...

Médiuns! Pegai a caneta!
Vede o Cristo... A silhueta!
Quer ditar para o planeta
Sua vida quando hebreu!”

Da Espanha que viu nascer
A nobre Amália Soler
-Amália, luz fulgurante!
Sol com forma de mulher!-

A Treva cruza a fronteira
E sopra ao clero: “Fogueira!
Da Obra do Além altaneira,
Não reste a cinza, sequer!”

E pela América, Europa,
A Treva deixa sinais...
Quantos médiuns arrastados
À sala dos tribunais!

Viram bem perto o chicote,
Leymarie, Slade, Ana Rothe,
Orando, - à luz de uma archote,
Na prisão – como animais!...

E a Pátria do Evangelho?
Não foge a tropa do Mal?
Ramatis – clarim das sombras!
Tombou já do pedestal?

E a Treva horrenda e devassa
Proclama em grande arruaça:
“Com discursos e trapaça
Venceremos, afinal!”

E a mente da Treva insana
Não dá trégua contra a Luz!
Recruta e põe nas tribunas
Muitas almas de capuz...

Mas descendo do Infinito
À Terra lanço meu grito:
-Está no Céu já escrito:
O TRIUNFO É DE JESUS.

Espírita, companheiro,
Não te alheie a batalha.
A verdade – é tua arma!
A prece – tua muralha.

Conserva pura a doutrina
Que reflete a Luz Divina!
E já – confiante – em surdina,
Com Jesus Cristo – trabalha!...

Castro Alves


Fonte: livro Antologia do Mais Além. Espírito: Castro Alves. Médium: Jorge Rizzini. Ed. LAKE.

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