O VASO

Conta-se que certa vez, grande seca se abateu sobre um reino distante, trazendo o flagelo da fome. Sem alimento as famílias começaram a adoecer, perecendo a cada dia. Penalizado, o bondoso rei tomou de um vaso de barro e o encheu com água que brotava de uma fonte sagrada. Chamou dois servos e lhes disse:

- Entrego-lhes este vaso com água, a fim de aliviarem a sede do povo. Confio a vocês, a tarefa de percorrer as aldeias, diminuindo a carência e reerguendo o ânimo dos sofredores. Enquanto servirem com amor, jamais faltará água no vaso. Agora vão e sejam fiéis. 

Os dois servos iniciaram a jornada cheios de entusiasmo. Pelo caminho, depararam com crianças doentes e mães aflitas, fustigadas pela sede e pela fome. 

Fiéis a tarefa, eles serviram a água, devolvendo esperança aos sofredores. Quanto mais ofereciam daquela água, mais brotava no vaso, de maneira que o recipiente estava sempre abastecido. 

A certa altura, porém os dois servidores começaram a desentender-se. 

Disputavam o direito de carregar o vaso. 

Divergiam quanto ao melhor caminho a trilhar. 

Discordavam sobre a quantidade de água a ser oferecida. 

Quando algum sofredor dirigia-se a algum deles, em tom de gratidão, o outro sentia-se espicaçado pelo ciúme. 


Se um criticava, o outro melindrava-se. 

Se um alterava o ritmo da marcha, o outro reclamava. 

Tanto se atritaram que, num momento de invigilância, o vaso escapou-lhes das mãos, espatifando-se no solo ressequido. 

Só então caíram em si e perceberam que haviam fracassado. Faltara-lhes fraternidade para cumprirem a tarefa. 

Sem outra alternativa, retornaram ao palácio, de mãos vazias e o coração cheio de remorso. E em silêncio ouviram do monarca:


- Se vocês houvessem se ocupado apenas em servir, com simplicidade e amor, não teriam fracassado. Enquanto gastavam o tempo em disputas mesquinhas, a fome e a sede avançavam. A tarefa ficou incompleta, porque vocês colocaram o EGO acima do dever. 

Terão que retornar, para completar o trabalho. 

Assim, os servidores receberam outro vaso, abastecido com água, e em silêncio puseram-se a caminhar ao encontro dos sofredores.

Na seara espírita, somos todos servos do bem, com a tarefa de levar a água da esperança aos que padecem no deserto das provas e expiações. A Providência Divina nos confia o vaso de recursos em diversas expressões. 

Este carrega a água da palavra esclarecedora. 

Aquele serve a água da consolação. 

Outros transportam a água do bom ânimo. 

Entretanto, se matamos o tempo em disputas injustificáveis, abrigando queixas, retardando o trabalho, e comprometendo a consciência, obrigamo-nos ao recomeço para que enfim aprendamos simplesmente a servir com amor.

Médium: Cleyton Levy - Espírito: Augusto - Centro Espírita Allan Kardec - Campinas - São Paulo/SP


Interpretação do texto:


O Rei é Deus. 


Os servos somos nós, ainda no Mundo Espiritual. 


O vaso é o corpo que recebemos para o trabalho no Mundo. 


A água é a tarefa que recebemos de Deus antes de reencarnar.


A desunião entre os servos são os melindres, os filhos do orgulho.


O vaso quebrado é a nossa morte, sem cumprir nossa tarefa.


Assim os servidores (os Espíritos, por não terem cumprido sua tarefa), receberam outro vaso (outro corpo), abastecido com água (com a tarefa), e em silêncio puseram-se a caminhar ao encontro dos sofredores.

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