ESTUDO E VIVÊNCIA DO EVANGELHO


Paz, meus caros amigos.
No estudo do Evangelho, é preciso não esquecer o tempo transcorrido, a evolução da Ciência e da Filosofia, de há dois mil anos a esta parte. Se vós mesmos, no curso de uma vida breve, como é a do homem na Terra, modificais tantas vezes os vossos pontos de vista, a vossa maneira de entender uma lição, como estranhar sejam obscuras algumas palavras do Cristo, que a tradição recolheu e grafou, para estudo e roteiro das gerações futuras?
Sabeis que o Evangelho todo é um simbolismo, do qual o homem separa a letra, para beber a linfa pura que educa os corações, porque pelo coração é que a criatura encontra a sua origem: Deus.
Tu disseste (dirigindo-se ao diretor): a mão que se estende à Virgem não se recolhe vazia de esmola. Ora, todo aquele que quiser compreender o Cristo precisa sentir.
Disse bem o outro companheiro que, após já longo período de labor na Seara do Senhor, é que começa a entender aquilo que há servido de fundamento ao templo de Ismael: a caridade. Quem tem caridade tem amor e quem tem amor tem tudo, porque o amor é a essência das verdades cristãs.
É necessário exista equilíbrio entre a inteligência e a humildade, porquanto o que desvaira o espírito é o julgar-se possuidor de alguma coisa. Se ele é criatura, tudo o que possui pertence, em realidade, ao seu Criador.
Mas, à medida que o tempo passa e a sua inteligência se desenvolve pela aquisição dos conhecimentos da Ciência e das coisas criadas, ele se vai olvidando da sua origem simples, por pensar que já é alguma coisa. Daí a falência, a queda, o embrutecimento do coração, o domínio das paixões, a prática dos desregramentos e das crueldades.


A continuidade dessa prática avoluma as dívidas coletivas e a necessidade das reparações.

Há vinte séculos ouviu o mundo a palavra de salvação. Complemento da Lei Moisaica, essa palavra veio deixar entre os homens novas tábuas da Lei, que seria dali em diante a diretriz da Humanidade regida pelo Cristianismo. Crucificaram, porém, o Cristo, atiraram-se como feras sobre os discípulos.

Não amorteceram, entretanto, o fulgor da idéia, que varou os séculos e permaneceu latente na consciência de grande parte da Humanidade, espreitando o momento de empolgá-la toda, para a realização da profecia de um só rebanho e um só pastor.
Que são as dores do mundo, em face da perspectiva de felicidade que nós outros vislumbramos num futuro, talvez ainda longínquo para vós, mas que será realidade eterna, porque eterno só o bem o é?
Há sofrimento porque há pecado. Extinto o pecado, extingue-se o sofrimento.
Se reconhecerdes que a obra espírita é obra de sentimento, haveis de reconhecer que o Evangelho é o escrínio que guarda o sentimento necessário a essa obra.
Assimilai-o, pois, em espírito e verdade, pregai-o pelo exemplo, fazei que as massas admirem as vossas obras e tereis então compreendido o dever que vos corre, como a discípulos do Evangelho.
Sei que é árdua a tarefa, porque a senti pesando-me sobre os ombros. Quantas vezes elevava o pensamento ao Alto, implorando socorro, porque sentia o corpo a vergar sob o peso da cruz e não percebia Cirineu a me amparar. Não compreendia que a minha situação era idêntica à do estudante que tem de demonstrar, perante uma banca examinadora, o que aproveitou do seu ano letivo.
Precisamos sentir o peso da cruz, para afirmarmos a robustez da nossa crença e a firmeza da nossa fé. Esperamos que todos vós, cada um no seu posto, saibais compreender o que vos pede o Cristo, o que de vós exige o Cristo, neste momento crucial para a humanidade terrena.
Que Deus vos guarde com suas bênçãos, derramando sobre vós o bálsamo da sua misericórdia e confortando-vos mediante a assistência de seus mensageiros, nas horas dos desalentos e dos sofrimentos.
Paz fique convosco e perdoai ao vosso condiscípulo, se porventura não pode satisfazer ao vosso anseio por uma palavra de ordem ou de animação para a vossa tarefa. Paz.
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Mensagem de Bezerra de Menezes recebida na Sessão de 10-04-1940, do Grupo Ismael, pelo médium João Celani. Da obra TRABALHOS DO GRUPO ISMAEL, volume I, 1ª. Edição, 1941.
Fonte: Bezerra de Menezes – Ontem e Hoje. FEB, RJ, 4ª Ed., 2008.

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