León Tolstoi é o autor de Ressurreição e Vida, de Yvonne A. Pereira, que traz as informações contidas na entrevista com Zaqueu. Confira:
***
- Zaqueu, você poderia nos recordar seu encontro com Jesus, em Jericó, onde você residia?
ZAQUEU: A bondade do Mestre Galileu, honrando-me com uma visita e uma refeição em minha casa, eu, um renegado pela sociedade porque um "publicano", tocou-me para sempre o coração, conforme sabeis... Ele com- preendeu as minhas necessidades morais de estímulo para o Bem, o meu aflitivo desejo de ser bom. Penetrou, com sua solicitude inesquecível, os mais remotos escaninhos do meu ser moral; contornou, com seu amor de Arcanjo, todas as aspirações do meu Espírito, filho de Deus, que sofria por algo sublime que lhe aclarasse as ações... E conquistou-me, assim, por toda a consumação dos séculos.
- Narra o Evangelho que no dia da crucifixão de Jesus os apóstolos os abandonaram. Você estava lá naquelas horas de sofrimento?
ZAQUEU: Muito sofri e chorei quando esse Mestre foi levantado no suplício da cruz. Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! Segui-o. E o pouco que ainda viveu depois disso teve-me em suas pegadas para ouvi-lo e admirá-lo. Eu não me ocultei das autoridades receando censuras ou prisão, nem tive preconceitos, e tampouco me importunou a vigilância dos tiranos de Roma ou o despeito dos asseclas do Templo de Jerusalém. Achava-me bem visível entre o povo, transitando pelas ruas, embora ignorado, humilhado pela minha condição de funcionário romano... E assisti aos estertores da agonia sublime naquela tarde do 14 de Nisan.
- Como foram aqueles momentos sublimes da reaparição do Cristo, após o terceiro dia de sua morte?
ZAQUEU: Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças... Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre, não fui bastante merecedor dessa ventura imensa... Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos – homens e mulheres – e aos apóstolos.
- O que você fez depois?