Falemos das últimas espirais da
glória, habitadas pelos Espíritos puros. Ninguém as atinge antes de haver
atravessado os ciclos dos Espíritos errantes. Júpiter está no mais alto grau da
escala. Quando um Espírito, longamente purificado por sua estada nesse planeta,
é julgado digno da suprema felicidade, é disso advertido por um redobramento de
ardor; um fogo sutil anima todas as partes delicadas de sua inteligência, que
parece irradiar e tornar-se visível; deslumbrante, transfigurado, ele clareia a
luz que parecia tão radiosa aos olhos dos habitantes de Júpiter; seus irmãos reconhecem
o eleito do Senhor e, trêmulos, ajoelham-se ante a sua vontade. Entretanto, o
Espírito escolhido eleva-se, e os céus, na sua suprema harmonia, lhe revelam
belezas indescritíveis.
À medida que sobe, compreende,
não mais como na erraticidade, não mais vendo o conjunto das coisas criadas,
como em Júpiter, mas abarcando o infinito. Sua inteligência transfigurada eleva-se
como uma flecha até Deus, sem tremor e sem terror, como num foco imenso
alimentado por mil objetos diversos. O amor, nesses diversos Espíritos, reveste
a cor de sua personalidade; eles se reconhecem e se regozijam. Refletidas, suas
virtudes repercutem, por assim dizer, as delícias da visão de Deus e aumentam incessantemente
com a felicidade de cada eleito. Mar de amor que cada afluente aumenta, essas
forças puras não ficam mais inativas que as forças de outras esferas. Logo
investidos do dom da ubiqüidade, abrangem ao mesmo tempo os detalhes infinitos
da vida humana, desde a sua eclosão até as últimas etapas. Irresistível como a
luz, sua vista penetra por toda parte simultaneamente e, ativos como a força
que os move, espalham a vontade do Senhor. Como de uma urna cheia escapa a onda
benfazeja, sua bondade universal aquece os mundos e confunde o mal.
Esses diversos intérpretes têm
como ministros de seu poder os Espíritos já depurados. Assim, tudo se eleva,
tudo se aperfeiçoa e a caridade irradia sobre os mundos, que alimenta em seu
seio poderoso.
Os Espíritos puros têm como
atributo a posse de tudo quanto é bom e verdadeiro, porque possuem o próprio
princípio, que é Deus. O próprio pensamento humano limita tudo que abrange e
não admite o infinito, que a felicidade não limita. Depois de Deus, que pode
haver? Deus ainda, sempre Deus. O viajante vê os horizontes se sucederem aos
horizontes e um é apenas começo de outro; assim, o infinito se desdobra
incessantemente. A maior alegria dos Espíritos puros é precisamente essa
extensão tão profunda quanto a própria eternidade.
Do mesmo modo que não se descreve
uma graça, uma chama e um raio, não posso descrever os Espíritos puros. Mais vivos,
mais belos e mais resplandecentes que as mais etéreas imagens, uma palavra
resume seu ser, seu poder e seus prazeres: Amor! Preenchei com esta palavra o
espaço que separa a Terra do Céu, e ainda não tereis senão a idéia de uma gota
de água no mar. Por mais grosseiro que seja, só o amor terrestre pode vos dar
idéia de sua divina realidade.
Espírito: Georges
Médium: Sra . Costel
Fonte: Revista Espírita - Outubro de 1860
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