1941-2011: 70 anos de publicação do livro Paulo e Estevão – 1ª parte: Saulo, de Tarso




O Apóstolo dos Gentios nasceu em Tarso, na Ásia Menor, onde atualmente está a Turquia. Era uma cidade grande, com mais de 200 mil habitantes, por onde passava uma estrada que a ligava ao que hoje é a Europa. Tarso, a capital da província romana da Cilícia, era predominantemente grega e um dos mais efervescentes centros de cultura do mundo helênico, chegando a rivalizar com Atenas. Era uma cidade cosmopolita. Abrigava um porto fluvial movimentado e se impunha como um importante pólo comercial. Suas ruas estreitas viviam apinhadas de gente e suas casas abrigavam povos de várias regiões: egípcios, bretões, gauleses, núbios e sírios – além dos judeus (como a família de Saulo), que na época já haviam se assentado em várias cidades do império.
O ano exato do nascimento de Saulo, bem como a data dos principais acontecimentos de sua vida, sempre foram motivo de muita controvérsia. Muitos historiadores afirmam que ele nasceu entre os anos 6 e 10 da nossa Era; outros supõem que ele tenha nascido por volta do ano 5.
Essa questão foi esclarecida por Emmanuel, no romance Paulo e Estevão, no capítulo IV:
“Estamos na velha Jerusalém, numa clara manhã do ano 35.”

Mais adiante, Emmanuel nos apresenta a Saulo:
“O jovem Saulo apresentava toda a vivacidade de um homem solteiro, bordejando os seus trinta anos.”
Portanto, em 1941, ano da publicação do romance Paulo e Estevão, Emmanuel já demonstrava, nas entrelinhas, que Saulo nasceu no ano 5 d.C. Era alguns anos mais novo do que Jesus – cujo nascimento, segundo descobertas históricas recentes, é datado entre 6 e 4 a.C. Paulo foi educado na casa de seus pais, na sinagoga e na escola ligada a ela. Aos 15 anos, deixou Tarso e mudou-se para Jerusalém, onde matriculou-se na escola de Gamaliel, um dos sábios mais respeitados do mundo judaico. Paulo teve uma formação acadêmica de primeira – nos parâmetros atuais, algo equivalente a um doutorado em Harvard.
Saulo teria que ser um homem internacional e, ao mesmo tempo, profundamente judeu, como o descreve Hermínio C. Miranda, no livro As marcas do CristoPaulo, o Apóstolo dos Gentios.
No romance mediúnico Paulo e Estevão, Emmanuel nos apresenta a Saulo, um jovem por volta de trinta anos, chegando à casa de seu amigo Sadoc, em Jerusalém, transportado por uma biga romana, trajando a túnica do patriciado romano, falando de preferência o grego, a que se habituara em Tarso, no convívio com mestres formados em Atenas e Alexandria.
Independentemente de seu nascimento, no rigor da tradição familiar judaica, era também cidadão romano, condição que lhe conferia livre trânsito por todo o Império.
Emmanuel deixa bem claro a data em que se passaram os episódios envolvendo Saulo, Estevão e os Apóstolos da Casa do Caminho; o romance se inicia em Corinto, na primavera do ano 34 de nossa Era e Saulo, aos trinta anos de idade, chega a Jerusalém no ano 35 da nossa Era.
Emmanuel o descreve como ambicioso, inteligente e dinâmico; impulsivo, mas de personalidade vigorosa; mestre no racionalismo superior; culto e fiel às tradições de seu povo. O sonho de Saulo era tornar-se um rabi influente, somando os poderes religiosos aos poderes políticos e dessa forma dobrar os joelhos de gregos e romanos ante as leis de MOISÉS.
Embora de forma diferente do que imaginava, Paulo conseguiu seu intento: dobrou os joelhos de gregos e romanos ante as leis, não de Moisés, mas do Cristo.
Saulo havia sido discípulo de Gamaliel e, ao assumir seu posto no Templo, já era admirado por todos em Jerusalém.
Hermínio C. Miranda (op. cit.), a seu turno, assim descreve a personalidade de Saulo: rica, profunda e complexa; profundamente humana e, a um exame superficial, extremamente contraditória.
A contradição é a dominante desse vulto porque, por mais estranho que pareça, é a constante que mantém una, ativa e empreendedora a mente poderosa desse Espírito, que precisava estar atento às duas principais frentes de luta que realmente se lhe opunham: o velho esquema, superado, esclerosado, esvaziado, corrompido – e o novo, que se oferece àqueles que continuam buscando alternativas  válidas para a evolução incessante do Espírito imortal.
Saulo possuía um pensamento universal, pois no futuro iria enfrentar o dogmatismo dos próprios Apóstolos, principalmente de Tiago que, apesar de ter convivido com Jesus, insistia em manter os costumes judaicos, especialmente circuncidar os gentios.
Após o embate com Estevão no Sinédrio, Saulo fica muito impressionado com a sua coragem e com a doutrina que ele pregava, aparentemente simples, mas que vinha abalar o fundamento dos princípios estabelecidos por Moisés.
Saulo foi humilhado publicamente por Estevão; essa a razão de suas idéias de vingança e de querer reparações equivalentes à humilhação, pois, na verdade, saíra do embate com a vaidade ferida, graças ao orgulho racial e seu instinto de domínio; Estevão e Cristo eram perigosos inimigos, os quais era preciso combater com todas as forças.
Saulo era médium mas ainda desconhecia sua faculdade mediúnica na época da perseguição de Estevão e dos neo-crucificados, como eram denominados os cristãos.
O fanatismo desesperado a que se entregou nos primeiros tempos de sua carreira de doutor da lei contra Estevão e os Apóstolos, nos faz suspeitar de influência espiritual negativa.
Emmanuel confirma a suspeita, ao descrever:
No dia seguinte à prisão de Estevão, (Saulo) procurou arregimentar as primeiras forças com a máxima habilidade. À cata de simpatia para o amplo movimento de perseguição que pretendia efetuar, visitou as personalidades mais eminentes do judaísmo, abstendo-se, contudo, de procurar a cooperação das autoridades reconhecidamente pacifistas. A inspiração dos prudentes não o interessava. Necessitava de temperamentos análogos ao seu, para que o cometimento não falhasse.
É bem possível que, valendo-se dos recursos mediúnicos de Saulo, latentes e desprotegidos, aqueles que se opunham aos trabalhos de divulgação do Cristianismo nascente tenham procurado desviá-lo de seus compromissos.
É evidente que Paulo não foi convocado para as tarefas apostolares no momento em que caiu às portas de Damasco. Jesus não lhe aparece para convidá-lo, mas para lembrar-lhe o seu compromisso, dizendo-lhe da inconveniência de adiar a tarefa, da qual Saulo se recorda instantaneamente ao responder:
"Que queres que eu faça, Senhor?"
A escolha precedeu o nascimento de Saulo, tendo sido feita, obviamente, no mundo espiritual.
Anos depois Saulo, já transformado em Paulo, o Apóstolo dos Gentios, sabe disso e informa aos gálatas:
“... Mas quando aquele que me separou desde o seio de minha mãe e me chamou por sua graça houve por bem revelar em mim o seu Filho para que eu o anunciasse aos gentios, fui sem pedir conselho nem à carne, nem ao sangue...”
A tarefa de Saulo já veio definida: é a da pregação aos gentios e seu aprendizado não vem dos homens, nem da carne, nem do sangue, mas do mundo espiritual, por intermédio da mediunidade, da inspiração.
“Este é para mim um vaso escolhido.”
Com estas palavras o Espírito amoroso de Jesus esboçou o papel que Paulo de Tarso viria a desempenhar no processo de revelação e consolidação do Cristianismo nascente. Vaso escolhido significa médium escolhido, uma vez que o médium, no caso em apreço, deveria ser um vaso adequado à recepção da essência dos ensinamentos divinos — um receptáculo das consoladoras mensagens que os Céus fariam baixar à Terra e um elo entre os mundos corpóreo e espiritual.
Não podemos deixar de identificar em tudo isso as minúcias de um planejamento transcendental que parece ter tudo previsto, colocando cada um no seu papel exato, no tempo preciso e no local determinado. Para isso, Saulo teria necessariamente de nascer em Tarso.

Fontes utilizadas para elaboração do texto acima: livro Paulo e Estevão, de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, FEB e livro As marcas do CristoPaulo, o Apóstolo dos Gentios, vol. 1, de Hermínio C. Miranda, FEB, 6ª Ed., 2010. Imagem: Projeto Imagem

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