A Dimensão Espiritual da FEESP


Mensagem de Bezerra de Menezes para Edgard Armond (em 12 de maio de 1958) na qual revela como a Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) era organizada no Plano Espiritual

"Meu caro amigo Armond.

Em nosso trabalho comum, que é este que se realiza na Federação como administradores que somos de uma grande instituição de amparo e socorro em várias finalidades, é-nos agradável trazer-vos notícias sobre os reflexos que adquire o nosso esforço conjugado entre os beneficiados que procuram o nosso ambiente, na maioria das vezes em desespero de causa.

Em nosso esforço sempre crescente e constante (pois só assim poderia ser) a nossa casa ganha o aspecto de um departamento de altas esferas espirituais, onde a atividade em prol da causa justa traz um amplo desenvolvimento, tarefa empreendida em nome do Mestre.

Quando o momento soou para ti e foste quase que jogado dentro desta Casa, então pequena e quase agonizante, nós confiávamos em tua boa vontade e esforço; conhecíamos tua fibra e sabíamos que não nos decepcionaríamos; mas mesmo assim ficamos surpresos ao verificar como assimilavas em toda plenitude as forças divinas que dia após dia jorravam sobre ti.

Batalhamos ao teu lado com o mesmo entusiasmo anos e anos; depositamos o elemento humano ao teu dispor para que num esforço conjugado tudo fosse levado a bom termo; alguns ficaram, outros lá se foram, demandando na mesma causa a outras casas ou desistiram fracassando fragorosamente, para tristeza nossa.

Após todos esses anos que correram céleres e que trouxeram para nós do plano espiritual alegria e conforto e a ti o cansaço das células, eu te convido, querido amigo a estacares agora por um minuto apenas...

Forneço-te o lenço para que possas enxugar o suor da fronte e aponto-te o passado distante para que observes a multidão que beneficiaste e que seguem teus passos, abençoando a estrada ainda a palmilhar.

Nesta conversa de amigos talvez estranhes minha atitude; não venho de modo algum incentivar a tua vaidade, pelo contrário, trago-lhe forças para o prosseguimento da tarefa.

A equipe de trabalhadores encarnados é agora excelente e o selecionamento feito por nós indica que a tua confiança pode repousar no esforço desses amigos abnegados que colaboram contigo.

Toda esta nossa conversa é para que também digamos o seguinte, meu querido amigo, agora mais do que nunca de mãos entrelaçadas te fazemos saber que a tarefa, após tantos anos de articulação, está apenas iniciada; as realizações maiores, em seu início como estão, demandam agora maior esforço nosso e, se antes confiávamos em ti, maior confiança temos agora.

E nesta parada que fizemos eu te digo, toma alento, prossigamos, porque a estrada está ainda longe do seu final; adiante, numa curva promissora e iluminada, encontrará ainda por realizar um trabalho muito grande; talvez coroa para teus esforços, e lágrimas de alegria para teu coração.

Como administradores espirituais desta Casa estamos apreciando naturalmente todos os vossos movimentos crescentes. Nada mais justo, pois, que tragamos notícias das atividades espirituais que se realizam sobre este teto.

A Casa cresceu à medida que aumentava a vossa necessidade. Se nesse plano que habitais o aumento de paredes depende de uma série de circunstâncias complexas, para nós não existem dificuldades nesse setor. Assim sendo, poderás imaginar a extensão de espaço que se estende sobre a vossa Casa Espiritual.

Circundada por vários prédios pertencentes a agremiações e fraternidades aliadas diretamente ao vosso trabalho, esses prédios formam um conjunto harmonioso dotado de grande atividade.

Sobre a própria Federação temos a sede principal onde se encontra o setor administrativo que possui 4 pavimentos edificados sobre uma área de mais de 5 mil metros quadrados.

 

No primeiro pavimento, pela necessidade do entrosamento do trabalho, estão instalados departamentos administrativos para setores de atividades das agremiações a que nos referimos.

No segundo, estão os fichados completos dos freqüentadores da Casa.

Para cada irmão encarnado que busca essa Casa (levados por amigos espirituais na maioria das vezes) é feita uma ficha completa, a qual constam os antecedentes a essa existência, as dificuldades a que deveremos vencer e o auxílio que poderemos prestar, sempre naturalmente considerando a lei da causa.

Não tendo em nosso plano a burocracia dos vossos departamentos assistenciais da Terra, atendemos com rapidez e igualdade a todos os elementos encarnados que nos buscam.

Promovem-se todos os benefícios possíveis, inclusive o bem-estar, material e os encaminhamos, de acordo com a boa vontade que se manifestarem, a vários setores de trabalho e são todos conduzidos pela mão até o ponto que achamos útil ou necessário.

Nesse mesmo segundo pavimento estão tidas as fichas dos colaboradores encarnados diretamente ligados a Casa.

Este trabalho obedece a uma rotina diferente. Em noites determinadas para cada setor de tarefa, recebemos a visita obrigatória desses irmãos que vêm marcar nas fichas que lhes são fornecidas sua própria produção, tanto no que concerne ao serviço em si mesmo como aos progressos realizados no foro íntimo. Somos exigentes em relação a esses irmãos.

Após a marcação a ficha é levada a encarregados que semanalmente fazem o balanço do desenvolvimento espiritual de cada um, marcando na ficha os respectivos déficits. Ao tomarem conhecimento de tais déficits os colaboradores terão que se esforçar para corrigi-los, e a alternativa é ou saldá-los ou aumentá-los se houver negligência.

Tudo nessas fichas é pesado, medido e assentado, pois exigimos elementos cada vez melhores para colaborar conosco e, além disso, é necessário que também cumpra a tarefa que trouxeram ao encarnar. Como sabes, alguns a realizam brilhantemente enquanto outros deixam muito a desejar, mesmo quando colaboradores nossos.

Continuando a percorrer esse pavimento, temos outra sala onde se deposita nossa maior esperança e especial carinho: os arquivos dos Aprendizes do Evangelho em seus diversos graus.

Devotamo-lhes todo nosso carinho porque nos procuraram espontaneamente, aspirando realmente o discipulado.

Por isso seguimos bem de perto um a um anotando a movimentação de suas atividades principalmente no campo da melhoria íntima.

Ao ingressar na Escola estes irmãos, são chamados ao nosso Departamento os Espíritos que os acompanham desde o nascimento e são fornecidas instruções para que recebam o mais amplo auxílio para que cada um receba de nossa parte o mais completo apoio na tarefa espiritual, porém mesmo recebendo tal apoio não quer dizer que haja sucesso completo para todos. De acordo com a sua maneira de agir, o aprendiz prossegue triunfante ou estaciona na morbidez da personalidade ou algumas vezes mesmo abandona o campo em plena luta. Quando se fazem os exames espirituais periódicos, já as fichas respectivas se encontram preenchidas com a respectiva classificação, não fazendo os médiuns mais do que receber e transmitir informações nossas.

Proporcionamos pois aos aprendizes as tarefas necessárias e felizes os vemos se engrandecerem dia a dia aos olhos do Mestre.

Porém fazemos uma distinção. Ao alcançar o aprendiz o grau máximo que é a Fraternidade dos Discípulos, cessa nosso auxilio, porque o irmão encarnado já está cônscio de suas responsabilidades e precisa, com sua conduta, conscientemente, fazer jus à sua situação e iniciar seu programa de ação do campo evangélico em suas mais variadas atividades. O irmão que assim não procede continua no curso como elemento da Fraternidade, mas sua ficha é retirada do nosso arquivo, como folha morta, para que o seu lugar seja ocupado por outro elemento de maior boa vontade. 

A Escola de Médiuns recebe também idêntica atenção e carinho; sentimos apenas ser este setor bastante instável, diariamente procurado por muitos e diariamente abandonado por muitos que, não conseguindo logo o seu intento - que é o desenvolvimento de faculdades mediúnicas - esmorecem aos primeiros obstáculos. Este setor está afeto aos irmãos egípcios e hindus que a ele se devotam dedicadamente.

 Acima, no terceiro pavimento, temos em toda sua extensão salões de reuniões onde, de acordo com os programas, são proferidas conferências e exortações evangélicas aos Espíritos já escolhidos e que no abandono do corpo físico durante o sono privam conosco em palestras agradáveis de onde saem fortalecidos e revigorados.

No último pavimento temos os mais variados centros de estudos psíquicos, onde são selecionados por nós quem recebe o amparo e os esclarecimentos necessários para o prosseguimento de suas tarefas elevadas.

Os demais prédios que nos circundam são de auxílio aos encarnados que para aqui também são trazidos à noite para tratamento de seus perispíritos e de seus males.

Quanto aos irmãos atendidos em trabalhos de cura especializados, passam também por estágios nessas dependências. Sobre o setor de curas falaremos mais tarde pormenorizadamente.

Nas dependências de outros prédios, como o da Fraternidade dos Filhos do Deserto, está o setor especializado das curas de obsediados. E os obsessores são detidos ali por muito tempo para receber necessário esclarecimento.

Trabalhando ativamente junto à Fraternidade da Rosa Mística de Nazareth temos Meimei, que realiza grandioso trabalho junto às crianças e se esmera na assistência à gestante necessitada de amparo moral e material.

Meimei
Isto tudo te dissemos, querido Armond, num relato sumário sem poder nos estender dada a exigüidade do tempo mediúnico para que aquilates sobre o que repousa tua cabeça. Continua, pois, firme e serenamente com os olhos fitos no Mestre. Vamos ampliar cada vez mais os nossos setores de atividades conjunta. Prosseguindo tu, prosseguiremos também, declinando tu, declinaremos também, pois nossas atividades decorrem uma da outra.

Os problemas mais urgentes que são os de espaço e de recursos serão logo providos.

O que necessitas é continuar realizando sem parar.

Terás a nossa ampla solidariedade em todas as tuas execuções desde que estejam no programa de socorro e amparo.

Que Jesus permita que continuemos até o fim de tua jornada, sempre juntos.

Bezerra." 

Fonte: Livro "No Tempo do Comandante - Edgard Armond e o Espiritismo em Época de Revolução", p. 297 a 300. Ed. Radhu.

Autor: Edelso da Silva Junior

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