A atualidade de Emmanuel: aspectos de seu plano pedagógico

Hoje em dia é muito comum vermos e ouvirmos, no meio espírita, a expressão “plano pedagógico” nas ações voltadas à educação. Seu uso, no entanto, já constava em texto escrito por Emmanuel – em livro homônimo – em 1938, por intermédio da psicografia de Francisco Cândido Xavier. No capítulo XXXV da obra em questão, são sugeridas, de forma inovadora, diretrizes norteadoras de um plano pedagógico que, apesar de abranger atividades “multiformes”e “imensas”, não é, segundo o autor, impossível de ser concretizado.

No presente artigo, as informações extraídas do texto supracitado foram selecionadas e reagrupadas, embora sem alterar o seu sentido original, de modo a se adequarem melhor à forma dos planejamentos pedagógicos atuais. Estes, geralmente, compõem-se dos seguintes elementos: justificativas, objetivos gerais, procedimentos, resultado. Assim, para orientar o leitor quanto ao sentido adotado para esses termos, definimos:

• Justificativas – são as razões para se desenvolver um plano;
• Objetivos gerais – são as metas de longo alcance que se pretende atingir;
• Procedimentos – são as sequências de ações ou instruções a serem seguidas para efetuar uma tarefa;
• Resultado – é a consequência ou efeito.

Pontuadas, em linhas gerais, partiremos para o entendimento dessas diretrizes à luz do pensamento de Emmanuel.


I. Justificativas

“Sabemos todos que a Humanidade terrena atinge, atualmente, as cumeadas de um dos mais importantes ciclos evolutivos. Nessas transformações, há sempre necessidade do pensamento religioso para manter-se a espiritualidade das criaturas em momentos tão críticos.

[...] A missão do Cristianismo na Terra [...] [é] justamente, para a necessidade de se remodelar a sociedade humana [...].

Todas as reformas sociais, necessárias em vossos tempos de indecisão espiritual, têm de processar- se sobre as bases do Evangelho. [...] Pela educação.

[...] porquanto não existe outra fórmula que possa dirimir o conflito da vida atormentada dos homens.

Toda a tarefa, no momento, é formar o espírito genuinamente cristão [...].

[...] Evangelizando o indivíduo, evangeliza-se a família; regenerada esta, a sociedade estará a caminho de sua purificação, reabilitando-se simultaneamente a vida do mundo.

No capítulo da preparação da infância [leia-se: No que se refere], não preconizamos a educação defeituosa de determinadas noções doutrinárias, mas facciosas, facilitando-se na alma infantil a eclosão de sectarismos prejudiciais e incentivando o espírito de separatividade, e não concordamos com a educação ministrada absolutamente nos moldes desse materialismo demolidor, que não vê no homem senão um complexo celular [...].

As escolas do lar são mais que precisas, em vossos tempos, para a formação do espírito que atravessará a noite de lutas que a vossa Terra está vivendo, em demanda da gloriosa luz do porvir.

Há necessidade de iniciar-se o esforço de regeneração em cada indivíduo, dentro do Evangelho, com a tarefa nem sempre amena da autoeducação.

As atividades pedagógicas do presente e do futuro terão de se caracterizar pela feição evangélica e espiritista, se quiserem colaborar no grandioso edifício do progresso humano.

O plano pedagógico que implica esse grandioso problema tem de partir ainda do simples para o complexo.”

II. Objetivos gerais

“[...] Urge reformar, reconstruir, aproveitar o material ainda firme, para destruir os elementos apodrecidos na reorganização do edifício social.

Por enquanto, todo o nosso trabalho objetiva a formação da mentalidade cristã, por excelência, mentalidade purificada, livre dos preceitos e preconceitos que impedem a marcha da Humanidade. [...] [a] processar-se sobre as bases do Evangelho.”

III. Procedimentos

[1] “[...] Primeiramente, o trabalho de vulgarização [do Evangelho], deverá intensificar-se, lançando, através da palavra falada ou escrita do ensinamento, as diminutas raízes do futuro.

[2] Partir do simples para o complexo, no esforço de regenerar ‘cada indivíduo, dentro do Evangelho’.

[3] [...] Urge, sobretudo, a criação dos núcleos verdadeiramente evangélicos, de onde possa nascer a orientação cristã a ser mantida no lar, pela dedicação dos seus chefes.

[4] Os continuadores do Cristo, nos tempos modernos, terão de marchar contra [...] A intelectualidade acadêmica [que] está fechada no círculo de opinião dos catedráticos, como a ideia religiosa está presa no cárcere dos dogmas absurdos. [...] com a liberdade dos seus atos e das suas ideias.

[5] [...] Formadas essas correntes de pensadores esclarecidos do Evangelho, entraremos, então, no ataque às obras. Os jornais educativos, as estações radiofônicas, os centros de estudo, os clubes de pensamento evangélico, as assembleias da palavra, o filme que ensina e moraliza, tudo à base do sentimento cristão, não constituem uma utopia dos nossos corações.”

IV. Resultado

“[...] terminado esse trabalho, os homens terão atingido o dia luminoso da paz universal e da concórdia de todos os corações.”

Sobre o exposto, ponderamos que a avaliação da aplicabilidade desse plano pedagógico será pertinente a cada um, a cada instituição ou órgão, respondendo questões, tais como: O que já realizei? O que estou realizando no momento? De que forma estou fazendo? O que falta fazer? Como poderei fazer?

Ademais, acerca da reforma a ser processada sobre as bases do Evangelho, destacada por Emmanuel, explicamos tratar-se de alerta, por ele anunciado, para que a mudança seja pautada pelas feições “evangélica” e “espiritista” na formação, por excelência, da mentalidade cristã nos homens, mentalidade esta, que envolve a união e a fraternidade. Nesse sentido, achamos conveniente relembrar ensinamentos contidos na parte introdutória de O Evangelho segundo o Espiritismo,4 em que a Espiritualidade nos esclarece que o ensino moral do Cristo é intocável para todas as religiões, conforme consta nas seguintes passagens selecionadas:

“[...] É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se [...]. Para os homens, em particular, constitui [...] uma regra de proceder que abrange todas as circunstâncias da vida privada e da vida pública, o princípio básico de todas as relações sociais que se fundam na mais rigorosa justiça. É, finalmente e acima de tudo, o roteiro infalível para a felicidade vindoura [...].”5

Portanto, fica muito claro que a união e a fraternidade entre todos serão estabelecidas por intermédio da difusão e da prática dos ensinos morais do Cristo, que só podem ocorrer na convivência, no respeito e aceitação dos nossos semelhantes como eles são, não importando raça, cor, credo religioso, posição social ou cultural. Nesse rumo, o exercício da convivência com base nos postulados “evangélico” e “espiritista” é o lastro que possibilitará, a cada um, vivenciar com equilíbrio os momentos difíceis pelos quais a Terra está passando e passará, até que seja definitivamente estabelecido o Mundo de Regeneração. Sobre a questão, Bezerra de Menezes6 alertou que já adentramos aos pórticos dessa Nova Era, sendo, portanto, imperioso e urgente que analisemos, meditemos e coloquemos em prática os fundamentos indicados por Emmanuel – voltados à revisão de nossas posturas e ações – definidos em seu plano pedagógico que – apesar de passados 71 anos de sua publicação – continua extremamente pertinente aos dias atuais.

Autor: Célia Maria Rey de Carvalho

Fonte: Revista Reformador, janeiro de 2011, publicação FEB.

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